











O conceito da minha publicação partiu da história infantil "A princesa e a Ervilha". Pareceu-me interessante tomar esta história como base pela ligação entre as páginas da publicação, que segundo a proposta teriam de ser pelo menos vinte, e os vinte colchões e vinte colchas que, segundo a história, compõem a cama da princesa.
A partir da história, estruturei a narrativa segundo um ciclo do sono: a fase de sono leve, ou vigília; a fase de sono mais profundo, correspondente à redução máxima de actividade cerebral e física em geral, e a fase REM, de grande actividade cerebral, em que ocorrem os sonhos, que dá nome à publicação. Cada uma das fases foi construída a partir de uma das páginas-base (revista, jornal e livro, por esta ordem).
Na primeira fase recriei elementos muito figurativos relacionados com o momento em que nos deitamos para dormir. na segunda procurei a repetição quase mecânica de letras, a representação da descida de temperatura do corpo e o alcance do estado mais profundo do sono (o "stand-by"), que termina com o despertar da última fase: REM. para a criação deste conjunto inspirei-me em imagens psicadélicas (caleidoscópios, candeeiros de lava, etc) e nas associações de conceitos dadaístas. utilizei também muita cor, procurando páginas mais saturadas e visualmente fortes. defini o papel com flores como elemento representativo da personagem, a princesa, utilizando-o em vários pontos da publicação para simbolizar as conecções com a realidade reproduzidas na actividade mental do sono.
Sendo os ciclos do sono repetitivos, percorrendo cicliclamente estas três fases, estruturei a leitura do livro em U: começando pelo bloco da esquerda, passando pelo fundo da publicação, e terminando no bloco da direita. assim, a leitura do livro alcança a sua profundidade e termina no mesmo plano superficial do início, tal como o ciclo do sono.
A banda colocada a fechar a publicação procura orientar levemente a leitura da publicação. no entanto, sendo o sono um estado mental tão aleatório e acerca do qual ainda há tantas dúvidas, pareceu-me interessante assumir a necessidade de descodificação do fio condutor da narrativa, explorando os significados vários que podem surgir ao abrir o livro de diferentes formas ou lê-lo em diversos sentidos.
A ligação com a história infantil em que o projecto se baseia faz-se pela "ervilha" em papel, colocada na página do fundo. Procurei assim criar uma metáfora com o momento em que a princesa sente a presença da ervilha debaixo dos seus colchões, criando depois uma marca picotada nas páginas que se seguem, relacionada com o desconforto e a perturbação do sono devido a esse elemento.
Coincidindo a presença da ervilha na narrativa com a fase REM, procurei desenvolver a relação entre o que nos envolve enquanto dormimos, a realidade, e a percepção que temos dela durante o sono. assim, a penúltima página da publicação ironiza a narrativa, inspirando-me nas obras de Magritte "A Traição das Imagens": "ceci n'est pas une pois" (isto não é uma ervilha).
Será que a ervilha existiu mesmo, ou não passou de um retalho de sonho?
PÁGINAS
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